domingo, 17 de dezembro de 2017

RELACIONAMENTOS COM CARAS MAIS VELHOS E O QUE HÁ DE ERRADO COM ELES



RELACIONAMENTOS COM CARAS MAIS VELHOS E O QUE HÁ DE ERRADO COM ELES

[*Em resposta aos comentários que recebemos na página da Capitolina, sentimos o dever de esclarecer alguns pontos acerca dessa matéria:

O presente texto tem o objetivo de problematizar as relações de garotas com homens mais velhos. De forma alguma, pretende-se dizer que as relações heterossexuais são erradas/perigosas, tampouco 
ir contra os relacionamentos de casais cujos parceiros tem diferença de idade, muito menos de afirmar que isso não acontece em relacionamentos homossexuais. A intenção é trazer à tona os aspectos problemáticos de um relacionamento hetero de garotas com homens mais velhos, especificamente, pois foi a visão trabalhada no texto. Pelo fato de se escolher uma visão, não significa, necessariamente, que desconsideramos as demais. Foi tão somente um viés. Procurou-se, inclusive, deixar claro no texto que se em condições mais próximas, a mulher já tem uma chance alta de entrar num relacionamento abusivo – justamente porque o homem exerce poder sobre a mulher no modelo patriarcal de relacionamento -, quando há fatores que as distancia ainda mais do homem, essa tendência ao abuso pode aumentar. Não quer dizer que vai, mas que pode.

Além disso, vale ressaltar que em qualquer ponto do texto onde é tratado sobre a questão das relações de poder no relacionamento hetero, está somente abordando como a sociedade, em geral, vê os papéis da mulher e do homem num relacionamento baseado no modelo patriarcal.]


Já falamos aqui na Capitolina de como relacionamentos afetivos podem ser abusivos, como relações livres podem ser problemáticas, e como relações entre professores e alunas podem ser invasivas. E, de modo geral, todas essas situações têm um denominador comum, que é a hierarquia de poder que se estabelece entre os gêneros em um mundo patriarcal. Hoje falaremos de um exemplo em que muitos desses aspectos estão presentes: relacionamentos com caras mais velhos.

Heterossexualidade compulsória e abusiva

Um relacionamento, por si só, tem seus problemas. Pessoas são inseguras, podem ser carentes, podem estar passando por uma fase difícil, enfim… Diversos aspectos que fazem um relacionamento ser algo delicado. Só que em uma relação heterossexual as coisas se tornam ainda mais complexas, porque há uma cultura que 1) torna esse modelo o “normal” na sociedade, fazendo da heterossexualidade uma orientação compulsória e 2) a heterossexualidade é baseada em uma relação de hierarquia entre os gêneros, onde o homem exerce poder sobre a mulher. Essa hierarquia é naturalizada, como se uma mulher só estivesse plenamente feliz na companhia de um homem. Desse modelo é que resultam inúmeras relações abusivas, onde parceiros agridem verbal, moral e fisicamente suas parceiras, fazendo uso da cultura patriarcal para obter privilégios mesmo em uma relação afetiva. Exemplifico: é muito comum um parceiro ser extremamente ciumento com a namorada e, ao mesmo tempo, ser bastante infiel; ou seja, ele exerce total domínio sobre a vida da garota, ao mesmo tempo que se exime da responsabilidade afetiva com ela. E tudo isso é visto como natural…


A diferença de idade e a falácia do “você não é como as outras”

Se em uma relação heterossexual a mulher já está vulnerável a vivenciar um relacionamento abusivo, sendo uma situação complicada mesmo quando o parceiro é da mesma faixa etária, imaginem como a relação de poder se intensifica quando há o componente da diferença de idade. Aprendemos que somos fracas, dependentes e paranóicas frente a um cara com quem estamos envolvidas. Esse discurso se torna aproximadamente um milhão de vezes mais poderoso quando é encaixado na narrativa perfeita da garota (ingênua) que se apaixona pelo homem (maduro). Ela nunca vai se sentir segura, e ele, obviamente, vai se aproveitar disso para as mais variadas formas de controle e abuso.

Só que, ao mesmo tempo, esse cara vai se utilizar de uma outra retórica bastante difundida e que contém um apelo enorme no imaginário das garotas, aquela velha falácia do “você é diferente das garotas da sua idade, você é mais madura”. Primeiro que não, não somos diferentes entre nós e um homem se aproveitar da inimizade promovida entre mulheres é um sinal evidente de apropriação desse discurso para reforçar uma diferença que, no final das contas, é maléfica para nós mesmas e benéfica para ele. Segundo que esse cara quer, irresponsável e deliberadamente, impor uma visão própria da garota sobre ela mesma: apesar de ser mais nova, mais inexperiente, e obviamente menos madura, sobretudo sexualmente, ele quer fazê-la acreditar que ela está preparada e, mais, está sendo privilegiada, para bancar uma relação afetivo-sexual com ele.

Consenso forjado e a cultura do estupro
Uma garota que está em uma relação com um parceiro mais velho é vista, de maneira geral, pelas amigas e pela família, como uma “sortuda”, afinal, ele já tem uma carreira estável, bens materiais, é inteligente e maduro, diferente desses moleques da idade dela. Aqui se expressa outros grandes perigos desse tipo de relação: a dominação material e a coação.

Que garota seria boba o suficiente pra rejeitar um cara desses? Que tem carro, pode pagar o jantar, que enche ela e a família de presentes… E já que essa garota ainda é jovem e está na escola, no máximo na faculdade, ainda não está páreo financeira nem intelectualmente ao seu parceiro. Assim, nada mais óbvio do que ela retribuir com o consenso a essa relação e, no limite, com sexo.

Essa é uma das situações mais violentas dos relacionamentos com caras mais velhos: a coação sexual de uma garota. Já que o parceiro é mais experiente, já teve outras parceiras, é mais velho, a garota se sente na obrigação (e essa obrigação lhe é imposta por todos os lados) de ser ativa sexualmente. Mas ninguém sequer se preocupa com o fato de que essa opção geralmente é tomada sob a pressão que a garota sofre, o que faz o consenso, aparentemente compartilhado pelas partes, ser forjado de maneira invasiva.

- Gabriella Beira


(FONTEhttp://www.revistacapitolina.com.br/relacionamentos-com-caras-mais-velhos-e-o-que-ha-de-errado-com-eles/)



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