quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

FILMES ROMÂNTICOS E COMO NOS AFETAM



FILMES ROMÂNTICOS E COMO NOS AFETAM

Sempre fui daquelas que dizia com orgulho que não era influenciada por filmes românticos. Enquanto todas as minhas amigas assistiam a filmes no estilo de Como perder um homem em 10 dias e diziam acreditar naquilo, eu logo fazia uma careta e dizia que não, era besteira esperar por isso.

Porém, sempre fui apaixonada pelo meu amigo e acreditava que iríamos ficar, nos beijar, nos amar e um dia ele se declararia para mim, todo aquele amor que ficou guardado por anos. Bom, o primeiro momento aconteceu. Acabou que nos beijamos certa vez. Mas o dia seguinte não tinha nada a ver com o que imaginei: ele não era apaixonado por mim, deixou bem claro que era só uma noite e queria continuar sendo meu amigo. Mas peraí, e aquele final feliz que estava planejando na minha cabeça? Não iríamos ser felizes para sempre?

Filmes como De repente 30 (13 Going On 30, 2004), Amizade colorida (Friends with Benefits, 2011) e De repente é amor (A Lot like Love, 2005) mostram exatamente isso: um amor vindo do melhor amigo, um amor eterno e feliz. E, na realidade, não foi o que aconteceu. Então percebi que, na verdade, também acreditava em filmes assim.

Não é apenas essa a ilusão que nos transmitem. Os homens que estão sempre nesse gênero não possuem defeitos, ou se têm, são aqueles aceitáveis e engraçados para se lembrar numa conversa próxima (nenhum deles é abusivo ou totalmente machista, por exemplo). Os relacionamentos são felizes e mesmo as brigas são superadas pelo amor supremo. Há uma facilidade de cada parte expor seus sentimentos sem que o outro fique incomodado e, aliás, sentem-se elogiados e abraçados. Há uma bondade em geral, sem que haja qualquer indício de maldade de nenhum membro. E a maior de todas: quem se apaixonar por ti vai lutar de todas as maneiras para que entenda que este é seu amor verdadeiro, e assim você também vai se apaixonar (se já não estiver apaixonada), vocês vão se acoplar e serão felizes para todo o sempre.

Não são poucos os filmes assim: Amélie Poulain (Amélie, 2001), No balanço do amor (Save the Last Dance, 2001), Hitch (Hitch, 2005), O guarda-costas (The Bodyguard, 1992) Nunca fui beijada (Never Been Kissed, 1999) e por aí vai, senão faço um parágrafo inteiro só de filmes que ajudam nessas ilusões todas. E assim somos levadas a acreditar e a esperar que todos os relacionamentos se pareçam com algum filme já visto e que tenham o tão esperado final perfeito. Claro, isso existe desde sempre, porém os longas-metragens ajudam a reforçar tal ideia. E sim, há uma ajuda da indústria cinematográfica em geral para produzir este gênero com uma fórmula parecida: personagem feminina que precisa de um amor para se sentir completa encontra personagem masculino, se apaixona, luta por aquilo, ele também se apaixona, rolam algumas pedras no caminho mas, no fim, dá tudo certo.

Para começar, filmes românticos são um recorte da história do personagem. Após o final incrível e feliz, quem garante que o cara que era o príncipe encantado não se transformará num homem abusivo e começará a colocar sua tão amada esposa para baixo com frases desanimadoras? Como foi dito, as imperfeições de cada personagem não são mostradas de forma real, e sim ilusória, livre de defeitos extremamente ruins. Veja, nós somos feitos de defeitos e coisas boas, e isso não é mostrado. É sempre o extremo: ou você é muito bom ou você é muito mau.

Queremos ver finais felizes, beijos apaixonados, casais românticos com uma química incrível. Ou pelo menos é isso que os diretores, roteiristas e produtores acreditam que uma mulher quer ver. Então, comédias românticas são feitas exclusivamente para o público feminino, já o público masculino tem mais diversidade de histórias.

Existem filmes que mostram o depois e tentam modificar essa ideia de eternidade alegre e confortável. Filmes como 500 dias com ela (500 Days of Summer, 2009), O casamento do meu melhor amigo (My Best Friend’s Wedding, 1997), Rent (Rent, 2005), Once (Once, 2006) e Closer (Closer, 2004) mostram um outro lado, o do término de um relacionamento às vezes nem tão feliz. Na verdade, ninguém gosta de término, porque somos ensinadas desde sempre que os finais sempre são felizes e que nada é para acabar… Mas enquanto vivermos nesta Terra, começaremos e acabaremos relacionamentos, e isso é normal. E não necessariamente teremos um único relacionamento para toda a nossa vida.

Não devemos pegar uma parte da história e assumir que isso vai ser para sempre. Podemos ter um relacionamento estilo Scott Pilgrim (Michael Cera) e Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) — no qual ele luta contra todos os sete ex-namorados malvados de Ramona porque gosta dela de verdade —, com a ilusão de que alguém vai lutar pelo seu amor, ou outro num estilo Bridget Jones (Renée Zellweger) e Daniel Cleaver (Hugh Grant) — que apenas teve um relacionamento com ela, a enganando, porque queria transar. A vida é muito mais plena do que as duas horas que passamos na frente do computador assistindo a qualquer coisa pela Netflix. Saiba que é importante sim assisti-las, mas não se prenda: viva a realidade!

- Bia Quadros

(FONTE: http://www.revistacapitolina.com.br/filmes-romanticos-e-como-nos-afetam/)



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