domingo, 17 de janeiro de 2016

Refletindo a respeito do amor romântico

Refletindo a respeito do amor romântico

— O amor romântico não é construído na relação com a pessoa real, que está do lado, e sim com a que se inventa de acordo com as próprias necessidades. Ele é calcado na idealização. Deseja-se tanto vivê-lo que, quando alguém o critica, provoca grande desapontamento. Não é para menos. Nada pode unir tanto duas pessoas como a fusão romântica. A questão é que, por mais encantamento e exaltação que cause num primeiro momento, ela se torna opressiva por se opor à nossa individualidade.

— O amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico — uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos e reações. Inconscientemente, predetermina-se como deve ser o relacionamento com outra pessoa, o que se deve sentir e como reagir.

— Esse ideal amoroso, que só existe no Ocidente, começou há 800 anos, no século XII, mas nunca pôde entrar no casamento. Este só podia acontecer por razões econômicas e escolha dos pais. A partir do século XIX o amor romântico passou a ser uma possibilidade no casamento, mas as pessoas só passaram a desejar casar por amor a partir de 1940 aproximadamente.

— É a propaganda mais difundida, poderosa e eficaz do mundo ocidental. Chega até nós diariamente através de novelas, músicas, cinema. Com um detalhe: o amor romântico é uma mentira. Mente sobre mulheres e homens e sobre o próprio amor. É uma mentira há tanto tempo que queremos vivê-lo de qualquer jeito. Amamos o fato de estar amando, nos apaixonamos pela paixão. Sem perceber, idealizamos o outro e projetamos nele tudo o que desejamos.

— O amor romântico nos é imposto, desde muito cedo, como única forma de amor. Contém a ideia de que duas pessoas se transformam numa só, havendo complementação total e nada lhes faltando. Entre outras regras, prega: 
que os amados se completam, nada mais lhes faltando
que não é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo, 
que quem ama não sente desejo sexual por mais ninguém, 
que o amado é a única fonte de interesse do outro. 
que cada um terá todas as suas necessidades satisfeitas pelo outro

— É inegável que a fusão proposta pelo amor romântico é extremamente sedutora. Não é à-toa que, tanto nos contos de fadas como nas novelas, o herói e a heroína só podem ficar juntos no último capítulo (exaustos após superar tantos obstáculos), que termina com “E foram felizes para sempre”. São cristalizados naquele estado apaixonado porque é a única maneira de se garantir que assim ficarão para sempre. 

— O amor romântico não se sustenta na convivência cotidiana, porque você é obrigado a enxergar o outro com aspectos que lhe desagradam. Não dá mais para manter a idealização. Aí surge o desencanto, o ressentimento e a mágoa. Numa pesquisa do IBGE, há alguns anos, 80% dos entrevistados se declararam decepcionados com o casamento. 

— Para nos livrarmos desse tipo de amor precisamos, primeiro, ter coragem de abrir mão das nossas antigas expectativas amorosas e depois então, torcer para que mais pessoas façam o mesmo. Descobrindo outras formas de amar, podemos experimentar sensações até agora desconhecidas, mas nem por isso menos excitantes.

Trechos do livro A Cama na Varanda, de Regina Navarro Lins


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